As lições que ficam da sessão que durou 19 horas (!), na qual deputados e senadores se reuniram para votar a (famigerada) PLN 36, que, na prática, exime a presidentA reeleita de responder por crime de improbidade administrativa, ao não cumprir a meta de superávit fiscal de 2014:
a) condicionar o aumento de verbas para emendas parlamentares à aprovação da alteração da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) é um tipo de chantagem — e através do Diário Oficial (!) — jamais vista no Brasil. O que, por si só, já classifica o governo Dilma como o mais indigno de toda a História republicana;
b) a lista [que pode ser baixada aqui] com os nomes de todos os ordinários que votaram a favor da medida — em troca de R$ 748 mil reais para os seus projetos — deve ser guardada em um local seguro. Para ser consultada no segundo semestre de 2018, é claro;
c) Renan Calheiros provou, mais uma vez, não ter envergadura moral sequer para ser síndico de um prédio — quanto mais para ocupar a presidência do Congresso Nacional. Durante a votação dos senadores, faltava um voto para que o quórum fosse atingido. O que Renan fez? Computou o próprio voto (!) — o que não é algo usual. Na véspera, havia deixado clara a sua veia parcial e autoritária, ao exigir que a Polícia da Casa expulsasse os manifestantes das galerias. É evidente que, se as manifestações fossem favoráveis à pauta que estava sendo apreciada, ele não tomaria tal atitude;
d) ainda que em menor número, a oposição cumpriu o seu papel e obstruiu a votação o quanto pôde — mobilizando, inclusive, uma parcela significativa da população. A essa altura, ninguém tem a menor dúvida que Dilma Rousseff não terá “vida mansa” em seu segundo mandato;
e) Dilma, aliás — a exemplo do que declarou recentemente o senador Aécio Neves — tornou-se, de fato, “refém” do PMDB. Tanto que, embora o texto da medida tenha sido aprovado, a votação não pôde ser concluída — novamente por falta de quórum. O motivo? O PMDB quer mais cargos no próximo quadriênio. E, para mostrar à presidentA a sua força, abandonou a sessão antes do final. Como se dissesse: “Sem a nossa presença, o governo da senhora não consegue dar sequer um passo. Portanto, trate de fazer direitinho o que nós queremos”;
f) por fim, a deputada Jandira Feghali — talvez por razões etárias — provavelmente precisa comprar um aparelho auditivo. Afinal, ouvir as galerias gritando “vai para Cuba” e considerar que estavam xingando a senadora Vanessa Grazziotin de “vagabunda” é realmente o fim da picada. Aliás, vale frisar que Jandira foi a primeira a sugerir que as galerias fossem evacuadas...